segunda-feira, 2 de março de 2009

Sobre Vingança


No início da minha vida acadêmica, antes do pré escolar, fui obrigada a enfrentar um drama que muitas crianças vivenciam até hoje. Passava minhas tardes pintando com tinta guaches, colorindo com giz de cera, lanchando e dormindo logo em seguida. A parte em que era obrigada a dormir, eu odiava. Sempre fui agitada e era um martírio para mim essa tarefa. Para não levar bronca da professora (esta, adorava a tarefa soneca e sempre dava exemplo para os alunos), eu também me deitava e fechava os olhinhos, louca para que o tempo passasse rápido.

O que eu não podia imaginar é que seria atacada. Sorrateiramente, um menino toupeira se aproximou de mim e me mordeu. Eu o empurrei e fugi para o lado oeste da sala. Todos continuavam dormindo e não quis ser rebarbativa acordando a professora para reclamar da criatura. O agressor se chamava Luiz Cláudio. Era pequeno, do meu tamanho, tinha cabelo crespo raspadinho e dentes de um rato toupeira pelado. Aliás, ele era feio e ultra semelhante com este animal.

Os ataques se tornaram constantes e eu já não era tão educada (ou idiota) para esperar a professora acordar. Eu o delatava imediatamente. O problema era que a ensinante era cotó. Não fazia nada para acabar com os ataques do rato toupeira a não ser falar para o menino parar de me morder que era feio. Feio era o comportamento dela enquanto professora. O resultado foi que eu abandonei as aulas. Não agregava mesmo. Eu ia para a escolinha para ser obrigada a desenhar, comer e dormir. Isso eu poderia fazer em casa e ainda por cima com total segurança e sem obrigações.

Os anos se passaram e eu já estava na oitava série. Eu tinha uma ótima turma, com muitos amigos e era querida por todos! Adora ir para a escola. Aprendia e me divertia. Um belo dia, quem entra na sala?! Um menino pequeno, bem menor que eu, cabelos crespos e rapadinhos, com dentes de um rato toupeira. Sim, era o agressor. Não tinha como errar, ele continuava exatamente como era no passado. Sentou-se na frente de um amigo meu. Eu me sentava no fundão, fazia parte da liderança da sala. Calma, éramos uma liderança feliz, adorados por todos.

Parei na frente do piazinho e o fitei de forma inibidora. Perguntei se ele se lembrava de mim. Ele, todo sem graça e sem coragem de me olhar nos olhos, afirmou que não. Ordenei a criatura a me olhar nos olhos. Se ele não sabia quem eu era, eu ia contar para ele. Se ele não se lembrasse, pra mim plim, eu me lembrava e estava adorando vê-lo ali, tão frágil como eu fui um dia e sem falar que não houve evolução para ele. Contei que ele me mordia covardemente quando éramos crianças. Meus amigos ficaram revoltados! Os mais irritados, me perguntaram se eu queria que eles fizessem algo com ele, tipo, um corretivo. Minha resposta foi positiva. Quero que vocês aluguem bastante este rato. Façam brincadeirinhas idiotas, tirem sarro dele, e dêem aqueles tapas e outros tipos de agressões que moleques adoram. Meu desejo foi uma ordem. Tudo foi feito ali, no intervalo da aula de matemática, na minha frente! Os tapas seguiram o ritmo da aula, múltiplos. Nada grave, eram os atuais “pedala” pro garoto ficar esperto Sei que ele ficou muito envergonhado, isso conta mais que os tapas na nuca. A sessão vingança durou o tempo necessário. Me sentia líder de uma gangue. Ordenei que meus campangas parassem o massacre ao escutar um pedido de desculpa. Fui cruel, disse que não estava escutando e o mandei falar mais alto. _DESCULPA POR TER SIDO MAU!

Ótimo! Agradeci a todos os amigos e falei que agora eu iria apenas engrupir o rato toupeira. Já me sentia vingada. O episódio foi doido para a reflexão sobre a vingança. Não corri atrás dela, mas a oportunidade de vingar sentou-se a três carteiras à frente. O menino não sofreu nada que não sofreria ali com os coleguinhas dele. Aquilo que ele passou, todos os meninos passam por qualquer coisa, seja por torcer por outro time ou por falar alguma idiotice na frente da turma. Só que aquele momento foi meu. Estava curada do trauma de infância. Estava curada da fragilidade e da omissão que me atacou tão jovem. Alah!

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